Biografia de Getúlio Vargas: a trajetória do presidente que marcou o Brasil

Getúlio Vargas (1882 – 1954), presidente do Brasil

A trajetória política de Getúlio Vargas é um dos capítulos mais complexos e definidores da história do Brasil. Sua liderança, que se estendeu por quinze anos em um primeiro momento e mais três anos em um segundo mandato, moldou profundamente as estruturas sociais, econômicas e políticas do país, deixando um legado controverso e inegável.

Considerado por muitos historiadores o político mais influente do século XX no Brasil, Getúlio Vargas ascendeu ao poder em meio a turbulências e governou sob diferentes regimes. Desde a presidência provisória até o Estado Novo e, posteriormente, um mandato democrático, sua atuação deixou marcas indeléveis na identidade nacional brasileira.

A infância e a formação de Getúlio Vargas

Nascido em 19 de abril de 1882, em São Borja, no Rio Grande do Sul, Getúlio Vargas veio de uma poderosa família local, cujas raízes se estendiam por gerações na política e nas disputas regionais. A cidade de São Borja, próxima à fronteira com a Argentina, era um cenário de contrabando, aventuras políticas e conflitos armados, características que refletiam a história conturbada do próprio estado. A infância de Getúlio foi marcada por esse ambiente, que certamente influenciou sua visão de mundo e sua futura atuação.

A família Vargas exemplificava a complexidade política da região. Sua mãe, Cândida Dornelles Vargas, descendente de açorianos e ligada a fundadores de Porto Alegre, representava o lado federalista (maragatos) na Revolução Federalista. Já seu pai, Manuel do Nascimento Vargas, general militar condecorado e líder local do Partido Republicano Riograndense, defendia a causa republicana (chimangos). O casamento de seus pais uniu, portanto, duas das facções mais antagônicas do Rio Grande do Sul, conferindo à família uma posição de respeito e influência.

Apesar de uma breve passagem pelo Exército Brasileiro, Getúlio Vargas optou pela carreira jurídica, ingressando na faculdade de Direito. Essa escolha pavimentou seu caminho para a política brasileira, onde sua capacidade de articulação e sua visão estratégica logo se destacariam. Seus primeiros passos na vida pública ocorreram no cenário local, antes de sua ascensão ao palco nacional.

Seu desenvolvimento inicial ocorreu em um contexto de grandes transformações no país. Após atuar como promotor distrital e deputado estadual, Vargas liderou tropas durante a Guerra Civil Riograndense de 1923, demonstrando sua habilidade em momentos de crise. Essa experiência foi crucial para sua projeção e para o reconhecimento de sua liderança política, que culminaria em sua entrada para a Câmara dos Deputados.

A ascensão política e a Revolução de 1930

A carreira política de Getúlio Vargas ganhou projeção nacional rapidamente. Após sua atuação no legislativo, foi convidado a assumir a pasta da Fazenda no governo do presidente Washington Luís. Sua passagem pelo ministério foi uma etapa importante de sua formação, expondo-o aos desafios da administração federal e ao complexo cenário econômico do Brasil. No entanto, a ambição política de Vargas o levaria a retornar ao Rio Grande do Sul.

Ao renunciar ao cargo de ministro, Getúlio Vargas assumiu a presidência do estado, onde implementou uma série de políticas ativas e modernizadoras. Sua gestão no Rio Grande do Sul foi caracterizada por dinamismo e pela busca por reformas, o que solidificou sua base política e o projetou como um forte candidato à presidência da República na eleição de 1930.

Contudo, a eleição de 1930 foi marcada por denúncias de fraude e pela insatisfação generalizada com a política do “café com leite”, que alternava o poder entre as oligarquias de São Paulo e Minas Gerais. Embora tenha perdido o pleito para Júlio Prestes, Getúlio Vargas não aceitou o resultado, e a efervescência política do país culminou na Revolução de 1930.

A Revolução de 1930 foi um movimento armado que depôs o governo vigente e alçou Getúlio Vargas ao poder, inicialmente como presidente provisório. Esse evento marcou o fim da República Velha e o início de um novo período na história brasileira, conhecido como Era Vargas, que transformaria profundamente as estruturas políticas, sociais e econômicas da nação.

A Era Vargas: consolidação do poder e o Estado Novo

A fase inicial do governo de Getúlio Vargas, como presidente provisório (1930-1934), foi um período de intensas mudanças e reorganização do Estado. Durante esse tempo, Vargas implementou reformas significativas, visando centralizar o poder e modernizar o país. A promulgação de uma nova Constituição em 1934 foi um dos marcos dessa fase, resultando na sua eleição indireta como presidente constitucional.

Apesar da nova Carta e da aparente normalização democrática, o cenário político continuava instável. O governo de Getúlio Vargas enfrentou fortes oposições. A Revolução Constitucionalista de 1932, em São Paulo, foi uma das primeiras grandes contestações armadas, exigindo a redemocratização e uma nova Constituição, sendo duramente reprimida pelas forças federais sob a liderança de Vargas.

Três anos depois, em 1935, a eclosão da Intentona Comunista, uma tentativa de levante liderada por grupos de esquerda, serviu de pretexto para o endurecimento do regime. Em 1937, invocando uma suposta ameaça comunista, Getúlio Vargas deu um golpe de estado, instaurando a ditadura do Estado Novo. Esse período, que durou oito anos, foi caracterizado pela censura, repressão política e pela centralização quase absoluta do poder em suas mãos.

Sob o Estado Novo, Getúlio Vargas promoveu um vasto programa de industrialização e nacionalismo econômico, criando empresas estatais e consolidando leis trabalhistas, como a CLT. Paradoxalmente, um governo de tendências autoritárias liderou o Brasil na Segunda Guerra Mundial ao lado dos Aliados, a partir de 1942, em uma aliança com os Estados Unidos, contrastando com a natureza de seu próprio regime. A repressão a opositores, incluindo integralistas em 1938, também foi uma constante, com métodos que variavam de termos de paz a prisões políticas, demonstrando a firmeza do governo Vargas em manter o controle.

O retorno democrático e o desfecho trágico de Getúlio Vargas

Apesar de sua popularidade e das conquistas econômicas, o caráter ditatorial do Estado Novo se tornou insustentável, especialmente após o fim da Segunda Guerra Mundial, quando as democracias se fortaleceram globalmente. Em 1945, Getúlio Vargas foi deposto por um movimento militar, encerrando seus quinze anos ininterruptos no poder. Parecia o fim de sua carreira política.

No entanto, a figura de Getúlio Vargas continuava a ressoar no imaginário popular. Em um surpreendente retorno, elegeu-se democraticamente presidente da República em 1950, demonstrando o carisma e a influência que ainda possuía sobre o eleitorado brasileiro. Seu segundo mandato, porém, foi marcado por uma crescente crise política, econômica e social, que culminou em intensas pressões e conspirações contra seu governo.

Os últimos anos de sua vida foram de grande turbulência. Confrontado com uma crise política insustentável e a iminência de um golpe militar, Getúlio Vargas tomou uma decisão drástica. Em 24 de agosto de 1954, em um ato que chocou o país e o mundo, cometeu suicídio no Palácio do Catete, deixando uma carta-testamento que se tornou um dos documentos mais emblemáticos da história política brasileira.

A morte de Getúlio Vargas encerrou prematuramente sua segunda presidência e consolidou seu status de figura lendária e controversa. Sua trajetória, desde a ascensão pela Revolução de 1930 até o desfecho trágico, reflete as profundas contradições e transformações que o Brasil enfrentou no século XX. Sua Era Vargas e o Estado Novo deixaram um legado complexo, mas inegavelmente crucial para a formação da política brasileira moderna e para a compreensão de muitos dos desafios que o país enfrentaria nas décadas seguintes. A história do Brasil não pode ser contada sem considerar a influência duradoura de Getúlio Vargas em sua formação.

Referências

BIOGRAPHY. Getúlio Vargas. Disponível em: https://www.biography.com/political-figures/getulio-vargas. Acesso em: 02 out. 2024. ENCYCLOPÆDIA BRITANNICA. Getúlio Vargas. Disponível em: https://www.britannica.com/biography/Getulio-Vargas. Acesso em: 02 out. 2024. STUDYLATAM. Getúlio Vargas: Presidente do Brasil. Disponível em: https://studylatam.com/articles/getulio-vargas-presidente-do-brasil/. Acesso em: 02 out. 2024. WIKIPEDIA. Getúlio Vargas. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Get%C3%BAlioVargas. Acesso em: 02 out. 2024. WORLD HISTORY ENCYCLOPEDIA. Getúlio Vargas. Disponível em: https://www.worldhistory.org/GetulioVargas. Acesso em: 02 out. 2024.

Perguntas frequentes

Como Getúlio Vargas ascendeu à presidência do Brasil pela primeira vez?

Getúlio Vargas iniciou sua trajetória como advogado, atuando como promotor público e, posteriormente, deputado estadual e federal. Após servir como Ministro da Fazenda, assumiu a presidência do Rio Grande do Sul. Em 1930, mesmo após perder a eleição presidencial, ascendeu ao poder através de uma revolução armada, estabelecendo uma presidência provisória.

Quais foram os principais períodos e marcos dos governos de Getúlio Vargas?

Seus governos foram marcados por distintas fases: a presidência provisória (1930-1934), a presidência constitucional (1934-1937) e a ditadura do Estado Novo (1937-1945), durante a qual liderou o Brasil na Segunda Guerra Mundial ao lado dos Aliados. Após ser deposto em 1945, retornou democraticamente em 1951 para um segundo mandato presidencial.

Quais aspectos marcavam a infância e a origem familiar de Getúlio Vargas?

Nascido em 19 de abril de 1882, em São Borja, Rio Grande do Sul, Getúlio Vargas cresceu em uma região conhecida por conflitos políticos. Sua família, influente localmente, refletia essa dinâmica, com o pai, um general militar, e a mãe, cuja união de famílias opostas politicamente (Federalistas e Republicanos) lhe conferia grande respeito na cidade.

Como Getúlio Vargas encerrou sua segunda presidência e qual seu legado histórico?

Sua segunda presidência, iniciada democraticamente em 1951, terminou prematuramente com seu suicídio em 1954, em meio a uma profunda crise política. Vargas é amplamente reconhecido por historiadores como o político brasileiro mais influente do século XX, devido à sua longa e complexa trajetória como líder provisório, constitucional, ditatorial e democrático.

Perfil

Getúlio Dornelles Vargas

Presidente Vargas
Pai dos Pobres
Chefe da Revolução de 1930
Nascimento: 19 de abril de 1883 São Borja, Rio Grande do Sul, Brasil
Falecimento: 24 de agosto de 1954 Palácio do Catete, Rio de Janeiro, Brasil
Primeiro Governo: 3 de novembro de 1930 – 29 de outubro de 1945 (15 anos)
Segundo Governo: 31 de janeiro de 1951 – 24 de agosto de 1954 (3 anos e 7 meses)
Getúlio Dornelles Vargas foi um advogado e político brasileiro, presidente do Brasil em dois períodos: de 1930 a 1945, como Chefe do Governo Provisório, Presidente Constitucional e ditador do Estado Novo, e de 1951 a 1954, como presidente eleito democraticamente. Liderou a Revolução de 1930, que pôs fim à República Velha, e implementou profundas transformações políticas, econômicas e sociais no país. Seu governo foi marcado pela centralização do poder, pela industrialização, pela criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e por políticas nacionalistas e populistas, que lhe renderam o epíteto de “Pai dos Pobres”. Vargas suicidou-se em 1954, deixando uma carta-testamento.

Cargos e Títulos

Presidente da República Federativa do Brasil
Chefe do Governo Provisório do Brasil
Ditador do Estado Novo
Governador do Rio Grande do Sul
Ministro da Fazenda
Deputado Federal pelo Rio Grande do Sul

Família

Esposa: Darcy Sarmanho Vargas
Filhos: Lutero Vargas , Getúlio Vargas Filho , Jandira Vargas , Alzira Vargas , Manuel Antônio Vargas (Maneco)
Política brasileira Revolução de 1930 Estado Novo Leis trabalhistas Industrialização do Brasil Nacionalismo Populismo Presidente do Brasil (Segundo Governo) 31 de janeiro de 1951 24 de agosto de 1954 Presidente do Brasil (Primeiro Governo) 3 de novembro de 1930 29 de outubro de 1945 Governador do Rio Grande do Sul 25 de janeiro de 1928 28 de outubro de 1930 Ministro da Fazenda 18 de junho de 1926 7 de janeiro de 1927

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